quarta-feira, 25 de maio de 2016

"mais noite que a noite"

Hoje se inicia
o amanhecer
mais noite

aurora não reluz
amarga glória
que este peito conduz

queria lhe dizer
nada muda
nada para
que a dor esbarra
e que o tempo
sana

mas
hoje
só hoje
vi desenhando
nesses olhos
um medo
uma dor
de não ter tempo
de não ser flor

desrateada a tamanha distância
entre a esperança e o medo

de fundo marcado
eu fico calado, e lhe digo sereno
não há nada, que me faça melhor,
que me traga vida
que tente o sereno

terça-feira, 17 de maio de 2016

Caixeiro de Palavras

"A imaginação não doí . Imagine o que é bom. É um analgésico."

Eis que
Sem verso
vem dizer a vida
que não trate
dela
com a dor
(algo que já a modela)

reclama,
serena,
o que dela é
mas que recortada
sente.
quer que doe
o que é de mim
e não pede
sente, que preciso
imprecisamente
do módulo imaginário

desconstrução recente
de passados e futuros
projeções
projetos
fantasias

Mina de estrelas
Mulher de estrelas
e de tanto tê-las
vivo um terno
de tempera

Eis que chega
desavisadamente
o recorte
com dote escondido
com olhar aguçado
de momento

Como ler
como deter
esse informe
arbitrário
desse sem afim
do módulo imaginar.

Eis que tomo por fim.
Eis que tenho que recorrer
Eis que tento arrefecer
Eis que tamanha calha
me faz um rio-mar
ao caminho do palavrear.



Das notas

Não entender
E mesmo assim,
conjugar
em ti
em mim
tudo o que há
de se esperar

Para soar
Vai lento
e profundo
Ressoando
incessante

Cai o pranto
das notas
que não denotam
nada

está tudo

ai

irrestrito
e tímido
em Orion:
"Era quilômetros de silêncio"

paratopia
dom
dor


sábado, 7 de maio de 2016

Da prosa


São recursos pesados
(Não entendo dessas linhas carregadas)
sou condensada
torturada pelas palavras
remoída pelo ventre
que me sopra
e me leva ao leito
da agonia
de versejar

eu queria era mesmo
o sentido de silêncio
mas quando esse se projeta
rasga o peito
e eu fico
tratando de fazer sair
tantos quantos
forem necessários
para o peito dançar

Isso não é vida
é uma eterna
dívida
essa coisa
louca
de escreviver
essa coisa
louca
de projetar
pessoas
coisas
atos

preferia
de certo
uma leveza soberana
da linha dura e plana
que decanta em palavra
toda a trama
mas o verso
em mim
emana



Parada no portão

Dos planos que me cabem
navego perdida
em vaga ideia
de princípio
meio
e fim

Deixando passar as passagens
entre o que foi
e o que será
resolvi agora
parar
e vagar
traçando rotas
parando em notas
riscando todas
as alternativas

estou cansada
de ser esse alvo
esse para-raio

tudo me transpassa
e eu,
perdida de mim,
caminho atônita
nessas ruas
com vaga ideia
de princípio
meio
e fim

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Reatando


Em pé de silêncio
Dou por sentido o não dito
(Como transpor é cortante)
E a mente rega a fonte
Marco no peito
Essa data dilatada

Que de lágrimas faz incêndio.