terça-feira, 29 de junho de 2010

Calendário

Aproveita.
Marca o tempo.
Entre quadros coloridos passa.
Tira os meses passados.
Equilibra o presente.
Descompõe para compor.
Guarda,se necessário, as datas.
(É melhor guardar as felicidades.
Jamais se repetem. Ajuda a memória.)

Marcando e marcados, passamos.
Ele por nós.
Nós por eles.
Vamos virar a folha.
E tudo será um novelho passar.

Nada se vai sem voltar.
Aproveita.
Olha bem, o novelho passar.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Diálogo de Pássaros III

- Oi.
- Oi.
- Como estás?
- Estou e você?
- Sigo.
- Bom.
- Bem.
- Será que choverá?
- Sim, já choveu.
- Tudo se repete. Não há nada de muito novo.
- Ehh... A vida é assim... Mas existe mudança.
- Sei bem, e você, mudou em algo?
- Nem sei.
- Mas é capaz que existam novas lembranças.
- Bem, sei que gosta de brincar com o tempo.
- E você com as pessoas.
- Somos dois jogadores.
- Não, eu brinco e você joga.
- Vamos voltar a isso?!
- Na verdade nunca saimos daqui.
- Nunca saimos de nós mesmos.
- Malditas extensões.
- Não se pode bringar contra si mesmo?!
- Voltamos a isso?
- A brigar?! Jamais. Nunca duelamos.
Sempre foi uma guerra florida.
- Não estou de acordo.
- Não pedi.
- Pois bem, espero que o tempo melhore. Choverá?!
- Pois negas muito de que és. Pode ser. Sempre é tempo.
- Vais viajar?
- Sim. Sempre faço isso.
- E vai voltar logo?!
- Existem viagens que nunca terminam... E outras que jamais começam.
- Acho que vai chover... É melhor entrar!!
- Claro, você prefere. Mas esperava um convite.
- Um convite?!? De que e para que?
- Para um banho, de chuva. Ele sempre deixa a alma mais leve.
- ...
- Você e seu silêncio. Isso está cada vez mais seu.
Mas bem. Estou indo. Fica com o guarda-chuva.
- E o fichário?!?
- Pego depois... Só leva cartas não enviadas...
Não gosto de carregar esse silêncio falado.
- ...
- Um dia eu volto. Eu sempre volto.
- Mas...
- Guarda. Quem sabe um dia você pode entregar ou responder a essas cartas.
- Mas, e meu silêncio?!
- Ele será repleto das minhas palavras e pensamentos.
Você poderá me ler (ou não). Na chuva ou no sol.
- ...
- Um dia eu volto. Eu sempre volto.
- ...

Chove. Há uma passarela. Dois lados e um meio. Segue a chuva.
Seguem: seca a voz e seco o olhar.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Por una raya

podia ser tudo e nada, mas foi poesia.
ainda assim te amo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Memorial

Escrevendo uma ou algumas folhas por dia. Escreveremos o nosso livro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Blanco y negro

Dançam as cores por dentro...
Procuram os espaços.
Onde possam repousar lentas
[dessa coisa de ver.]
Ver pede muito. Pede tempo.

Ele corre. Solto e leve.
Nós o sentimos. Presos e densos.

Dançamos...
Par desalinhado.

Eu te preencho.
Você me invade.

Procuremos espaços.
Onde possamos repousar lentos.
De tudo.
Mas não do tempo.
E dessa coisa de dentro.
Desse vento.
[Que anuncia e vê]
O movimento

sábado, 5 de junho de 2010

Desde uma senda

Foi algo tão denso, que me perdi varias vezes, mas algo esta aqui. E chegou porque, por um curto instante, pudemos vibrar mão e mente.

E passei a ouvir-lhe, veio sem vir. Apoiou-se nele e foi.
Correu da sua boca até minha mão e daqui até seus olhos...
Corre como segredo. Um segredo entre nós. Não visto, não declarado.
"Sai! Não te quero! Vai bem longe. Outras paragens te esperam. Zombas demasiadamente alto e forte, mas não te arriscas... Busca outros espaços. Não posso te ter. Tão pouco rever a tua face. Pois dela sou espelho. Não suporto mais. Busca outro, estás vibrando alto e já não te alcanço. Peço outro palco, outra dança. Cheguei ao ponto alto e não vejo nada. Só tu, maldita, que não me soltas as mãos, não me descobre olhos! Quero ver, quero outros olhos, outra boca... Na tua tela, cheia de cores e vazios, não há espaço. Encontra outra luz. Encontra Outro. Nessa tela desbordada, desfiada e desmedida não existe mais o vibrar..."