segunda-feira, 28 de junho de 2010

Diálogo de Pássaros III

- Oi.
- Oi.
- Como estás?
- Estou e você?
- Sigo.
- Bom.
- Bem.
- Será que choverá?
- Sim, já choveu.
- Tudo se repete. Não há nada de muito novo.
- Ehh... A vida é assim... Mas existe mudança.
- Sei bem, e você, mudou em algo?
- Nem sei.
- Mas é capaz que existam novas lembranças.
- Bem, sei que gosta de brincar com o tempo.
- E você com as pessoas.
- Somos dois jogadores.
- Não, eu brinco e você joga.
- Vamos voltar a isso?!
- Na verdade nunca saimos daqui.
- Nunca saimos de nós mesmos.
- Malditas extensões.
- Não se pode bringar contra si mesmo?!
- Voltamos a isso?
- A brigar?! Jamais. Nunca duelamos.
Sempre foi uma guerra florida.
- Não estou de acordo.
- Não pedi.
- Pois bem, espero que o tempo melhore. Choverá?!
- Pois negas muito de que és. Pode ser. Sempre é tempo.
- Vais viajar?
- Sim. Sempre faço isso.
- E vai voltar logo?!
- Existem viagens que nunca terminam... E outras que jamais começam.
- Acho que vai chover... É melhor entrar!!
- Claro, você prefere. Mas esperava um convite.
- Um convite?!? De que e para que?
- Para um banho, de chuva. Ele sempre deixa a alma mais leve.
- ...
- Você e seu silêncio. Isso está cada vez mais seu.
Mas bem. Estou indo. Fica com o guarda-chuva.
- E o fichário?!?
- Pego depois... Só leva cartas não enviadas...
Não gosto de carregar esse silêncio falado.
- ...
- Um dia eu volto. Eu sempre volto.
- Mas...
- Guarda. Quem sabe um dia você pode entregar ou responder a essas cartas.
- Mas, e meu silêncio?!
- Ele será repleto das minhas palavras e pensamentos.
Você poderá me ler (ou não). Na chuva ou no sol.
- ...
- Um dia eu volto. Eu sempre volto.
- ...

Chove. Há uma passarela. Dois lados e um meio. Segue a chuva.
Seguem: seca a voz e seco o olhar.

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