quarta-feira, 28 de abril de 2010

Diálogo de Pássaros II

- Você conhece meu repertório?
- Sim. Mas espero variações.
- As variações do silêncio??
- Não, esperei mais de você.
- ...
- ...
- Acho que não consigo te ler.
- É, acho que sim.
- Acho que precisamos entrar em fase.
- Concordo. Fato raríssimo.
- Será necessário um seqüestro astral.
- Talvez não.
- Porque “talvez não”?
- ...
- Porque “talvez não”?
- Alguém disse: “Te deixei ir para ver até onde chegavas. Não fostes nem longe nem perto. Nem em mim chegaste.”

(Silêncio profundo e um olhar demasiado.)

Diálogos de Pássaros

- Sabe, queria te entender.
- Já desisti disso: ENTENDER.
- Se pode também só amar?!
- Será?!
- Bem, muitas vezes te odeio. Me irritam muitas coisas em você.
- Um exemplo.
- Você sempre me faz ter razão.
Para não me enfrentar, silencia.
- ...
- Não disse!?!
- ...
- O que?
- ...
- Nada. Acho que falamos línguas diferentes.
- Será?! Pode até ser!
- Em que língua você me lê?
- ...

(A retórica já foi sua arte.)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Espejismo

Ocultas a lágrima corrente,
Soluçando sorrisos doloridos.
Imaginas sentimentos reais.
Cativas desejos sonhados.
Roubas o que podias ser teu.
Amas só o conhecido proximal.
Nunca permites que estrangeiro entre.
[Se descobre por negação?]

Distopia


Desejei, mas nasci em momento inexato e lugar incerto.
Tentei mudar, fazer significar, em vão.
Muitas horas depois celebrei solitária a data.
Vesti-me (mas não fui ao teatro).
Não foi servido o jantar, frio foi degustado.
Li, reli, transmutei.
Não fiz ode.

Será que existem duas telas?
Sim, são várias.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sintonia

Nesse meio tempo em que a net não funciona e em que não é possível ouvir o som da tua voz quero te dizer o quanto és importante em minha vida. Porque me fez ver que eu sou maior do que penso e passível de crescer até onde você me enxerga. Que tenho manias, repetições e histórias que só você agüenta. Que você é capaz de me ler mesmo quando não sou o melhor texto. E que nunca vai querer me escrever, mas que me fará pensar nas palavras em que poderei rascunhar. Que até teu silêncio e o som da tua respiração são sentidos como espaços de colheita da calma e da alma do que mais preciso.

Você escolheu a melhor e a mais bela forma de amar.

Por isso e pelo inaudito, Te amo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Por Mnemosine

Ela sentou e escreveu tudo que esteve sufocando-a. Não sabemos em quanto tempo se faz uma estrela, como saberemos calcular o tempo daquele coser? Movimentos internos e externos. Expansões, tensões, guerras e conquistas. Tudo saia dela, como se estivesse preso e por um segundo viesse à luz.

“Espaços vazios são necessários e angustiantes. Odeio pensar em algumas coisas ( por isso tenho memória seletiva – só não sei se consciente ou inconsciente). Adoro o branco, mas sei que linhas me lembram letras – sejam elas em que cores forem – me encanta el clásico blanco y negro. Sou essencialmente derivada, por isso o Non serviam. Queria saber pintar, porque quando me escrevo , me sangro muito. A letra se tinge das cores que levamos e vemos. Cada ponto marca um ponto entre os eus que habitam em mim.”

E foi assim: corre, salta, mergulha, escreve. Nasceu letra, cresceu palavra, vingou texto.

Ela, ser sentimental, compôs o alfabeto só para sentir compreensão.Ao fim ergue os olhos e se declara:

- Nenhum significado é fechado. Sigo luando.

Pariu quem a fazia morrer.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Passagem

Quis te represar em mim.
Mas um rio não prende outro.
Podemos, talvez, nos comportar juntos.
[Se alargarmos as margens]
Mas será, tenho dito, muito de reconstrução.
Há muita força em jogo.
Nascemos e renascemos com tudo que levamos dentro.
Carregamos caudaloso volume de nós.
Muitos atos nos definem.
Muitos desejos nos ampliam.
Assim apontamos nossos meandros.
Mas sempre iremos ao mar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

As passadas da luta

Um encontro [quem sabe] se pode marcar. Somos nós, somos dois. Somos anoitecer e luar. Complementares? Talvez. Jamais poderemos constatar. Somos nós, somos dois a se [des]encontrar.
Nosso encontro é assim, um surto, um instante, como espuma do mar. Se conforma e furtivamente se vê desmanchar. Somos nós, somos dois. Somos arrecife e mar. Tão grandes, tão fortes, que não há minuto de não se chocar.
Somos nós, somos dois. Somos raio e mar. Se tocam, se beijam. Mas não sabem se amar... Encontros furtivos? Se pode esperar - mas quiçá um dia possamos nos amar.
Somos nós, somos dois. Encontro sem par. Podemos seguir.
Somos dois, somos nós, alguém em quem sempre buscar - o que falta e o que sobra.
Somos a busca do mar. [Que se perde em si]. Somos volta imperfeita, a escuma insatisfeita. Nós precisamos rascunhar. Somos nós, somos dois. Somos asas que desejam voar.
[Brincamos com o tempo]. Queremos ser e estar em reinos desconstruídos que tentamos remarcar...
Somos caule e espinho. Tentamos em vão declarar, qual seria o que marca o caminho para a seiva passar... Esquecemos [tontos] que não se pode separar.
A matéria [e algo mais ]nos une e nos faz recordar que só há um caminho, o de se reencontrar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Questões do tempo



Com uma letra, um número e uns sinais mostrou-se o que se pode sentir, dizer ou escrever: que o ontem e o amanhã são relocações do hoje. Vemos então que o hoje é o ontem e o amanhã e tudo o que fazemos hoje é futuro e passado.

(Assim explicamos o fato passado, que no presente foi descrito e no futuro será lido. Será que isso da matéria? Aponta o mote. Tenta sorte, marca ou não marca, sai a frase, recorda o número. Sai a letra, assim tentamos fazer canção... )

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pratadourada




Escrevo versos cor de céu
Entre cumulus e nimbus
Sou ser velando

Canto trovões
Entoando canções
Onde estamos? Para onde vão?

Num respiro mais fundo,
Corro e faço uma canção.
Peço a Ela, que por Ela,
Me ensine a direção

Amante polifásica
Doce espaço do dragão
Nasce, renasce e cresce
Como no mundo de ilusão.

Me faz assim, pratadourada.
Eu tenho muitas faces...
Mas não sou dona da ilusão.
[Por nós passa, igual ao tempo.
Não se foge de sua [ação.]

E é assim que um raio se faz canção.
Perdida em notas
Deixamos apenas a impressão
que ele brota de um encontro,
de uma tensão
E se mostra espraiado
Na pratadourada imensidão.